Ana Soranso – PSTU
Londrina
Érika Andreassi – PSTU
Maringá
Karen Capelesso – PSTU
Curitiba
Márcia Farherr – PSTU
Cascavel
Mariane Siqueira –
PSTU Curitiba
Na década de 1970, a Tese
do Empoderamento ganhou força nos ambientes acadêmicos e no movimento
de mulheres no mundo todo. Segundo essa teoria, a saída para as mulheres
combaterem o machismo é assumir cada vez mais postos de poder e cargos de
direção, como um meio de “empoderar” as mulheres. É baseada nessa idéia que
muitas vêem como progressivo o fato de que qualquer mulher assuma postos de
poder independente de sua classe social.
O determinante não seria mais a relação de
produção capitalista e a luta de classes. Quanto mais mulheres ocupando postos
de direção dentro do sistema capitalista (presidentes, senadoras, juízas,
senadoras, etc.) mais “poder” teriam todas as mulheres e, conseqüentemente,
sofrendo menos com o machismo e tendo melhores condições de vida.
De última a Tese do
Empoderamento secundariza a luta de classes e coloca como fundamental a
luta entre os gêneros, homem e mulher, para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária. O “Poder Feminino”, nessa concepção, seria instrumento
para mudar a realidade, uma vez que as mulheres (somente elas, independente de
sua classe) seriam o motor da transformação. Para
as defensoras desta tese, uma das medidas que poderia evitar uma crise
econômica é se houvesse mais mulheres governando o mundo.
A Marcha
Mundial das Mulheres – MMM, dirigida por companheiras do PT e PCdoB,
fundamenta sua política e ação nesta Tese, que na prática é a defesa da aliança
entre todas as mulheres, sejam burguesas ou trabalhadoras. Por isso, hoje a MMM
se localiza na base do Governo Dilma (PT), primeira mulher a ser presidente do
Brasil, ao lado de setores reformistas e burgueses que também apoiam o governo.
O
veredicto da história
Infelizmente esta tese
não passa pela prova da história. Vejamos a alguns exemplos:
- A Juíza Márcia Loureiro, mulher “empoderada” no
judiciário, foi quem determinou a invasão do Pinheirinho criando as
condições para que um idoso fosse assassinado e duas mulheres estupradas
na bárbara e violenta desocupação de cinco mil famílias.
- As “superempoderadas” Ângela Merkel (Chanceler Alemã) e
Christine Lagarde (Presidente do FMI) são as principais agentes dos bancos
e multinacionais da Europa que implementam os chamados Planos de Austeridade que desemprega
milhares de homens e mulheres trabalhadoras, reduzindo salários, direitos
e reprimindo as manifestações populares.
- A
“empoderada” Gleisi Hoffmann, é até então, a principal responsável no
Governo Dilma pelos planos de privatização da infra-estrutura do país, é
defensora da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares que
significa a privatização dos Hospitais Universitários) e também a fiel
escudeira dos latifundiários, grileiros de terras e multinacionais ligadas
ao agronegócio contra as mulheres e homens indígenas.
- No
governo de Dilma Houssef, enquanto é investido para cada assento da Copa
do Mundo R$ 11.172,00 de verbas públicas, para políticas públicas para o
enfrentamento a violência contra a mulher é apenas R$ 0,26, em um momento
em que no Brasil uma mulher morre a cada 1:30 horas vítima da violência
machista. Dados como esses demonstram de que lado está o “empoderamento”
de Dilma: ao lado dos empresários dos megaeventos.

Independência
de Classe ou Policlassismo?
Nós, mulheres do PSTU, achamos muito importante
que as mulheres rompam com sua situação de submissão e opressão e participem de
fato dos espaços de decisão como a política, assumindo postos de direção.
Porém, para mudar a vida das mulheres trabalhadoras não basta ter uma mulher no
poder, se não tiver compromisso com a classe trabalhadora, pois essa a luta
fundamental – a luta entre as classes e não entre os gêneros.
O fato de ser mulher em si, como por exemplo a
eleição de Dilma, tem um significado positivo, pois demonstrou que uma mulher
pode assumir a presidência da república, cargo político mais importante do
Brasil, em um país extremamente machista e violento. No entanto, quando uma
mulher assume um posto de governo e governa com ou para a burguesia dominante,
não reforça o poder das mulheres (gênero), mas da burguesia (classe).
O gênero é apenas um dos aspectos a ser
analisado, pois o fato de ser mulher pode alimentar ainda mais ilusões nas
mulheres trabalhadoras que sua situação mudará. Uma máscara feminina pode
inclusive ajudar a implementação de um política que ataca as mulheres e homens
da classe trabalhadora. O mais importante elemento a ser analisado não é o
gênero em si, mas o compromisso do governo em relação a políticas públicas para
quem de fato precisa: a classe trabalhadora.
Tem
dinheiro para a copa, mas não tem pra...
Já foram gastos mais de R$ 20 bilhões dos
cofres públicos na construção dos estádios, nas reformas dos aeroportos e nas
obras de infra-estrutura. É investimento público para financiar um evento
privado, que vai fazer lucrar empresas multinacionais e monopólios de comunicação.
Enquanto isso, os investimentos para conter a
violência machista em nosso país são extremamente limitados. Vejamos alguns
dados:
“Entre
2007 e 2011 apenas R$132 milhões foram investidos. Este número, que já era
limitado, sofreu de 2009 a
2011 uma queda de praticamente 50% e um corte de R$23,4 milhões em 2012. Apesar
de ter uma mulher “empoderada” na Presidência da República apenas 7,13% dos
municípios tem delegacias especializadas, muitas não atendem no fim de semana e
abrem somente durante o dia mesmo sabendo que os índices revelam que 36% dos
crimes ocorrem a noite e nos fins de semana (19% nos domingos); menos de 1% das
cidades tem Casas Abrigo”.(Jornal Opinião Socialista, n. 469, p.8)
Na educação nem se fala. Dilma fez um
compromisso eleitoral de construir 6.427 creches até 2014. Isso é completamente
insuficiente perante a necessidade real. Para que todas as crianças de 0 a 3 anos fossem atendidas por
creches seria necessário a construção de cerca de 70 mil novas unidades com
capacidade para 120 alunos cada a um custo de R$ 740 mil, totalizando R$51,8
bi.
No entanto, nem a promessa eleitoral vai ser cumprida. Dos R$2 bilhões que foram previstos para repassar aos municípios e concretizar a promessa apenas R$383 milhões foram repassados. No início de 2011, 39 creches foram entregues simbolicamente, e nenhuma estava pronta para começar a matricular crianças. Assim, o governo Dilma precisaria construir cinco creches por dia até este ano (2014), para cumprir sua promessa.
Essa situação é resultado do corte no orçamento realizado em 2011, em que R$50 bilhões deixaram de ir para a Educação e outras áreas sociais. Em 2012, Dilma e sua equipe econômica anunciaram um novo corte, agora de R$55 bilhões, afetando novamente os recursos que poderiam ir para a Educação Infantil.
Dilma para ser eleita, por exemplo, fez um
amplo acordo com a burguesia e os fundamentalistas religiosos, comprometendo-se
a não tomar medidas que levassem à legalização do aborto em nosso país. O Estatuto do Nascituro (“Bolsa Estupro”
como ficou conhecido pelos Movimentos Feministas) é uma capitulação total a
esta bancada e significa um retrocesso imenso nos direitos das mulheres. Marcos
Feliciano (PSC), notório machista, racista e homofóbico é (e continua sendo)
base de apoio de seu governo.
Não é a toa que a violência contra as mulheres
em seu governo aumentou mesmo com a criação da Lei Maria da Penha. O Brasil é o
7º país do mundo em índices de feminicídio. Amargamos dados como a cada 11
segundos uma mulher é estuprada e a cada 2 minutos uma mulher é espancada. Se
levarmos em consideração o recorte racial, em uma combinação perversa do
machismo e do racismo, esses dados ficam ainda piores.
Não basta ser mulher... tem que ser socialista!

Nem todas as mulheres são iguais. Há aquelas que exploram e as que vivem da exploração. Dilma, Gleisi, Márcia, Lagarde, Merkel não sofrem as mesmas dores das trabalhadoras pobres, que necessitam pegar o transporte lotado, dar duro no trabalho e ainda torcer para que o salário alcance o fim do mês. Elas têm outra vida. Elas não exercem o poder das mulheres em abstrato, mas o poder do Capital, que continua explorando e oprimindo as mulheres e homens trabalhadores.
O poder não é uma disputa de gênero, mas de
classe. A auto-organização das mulheres é muito importante, mas para que atue a
favor da liberdade das mulheres precisa ter um perfil de classe, ou seja, se
configurar na auto-organização das mulheres trabalhadoras junto com o conjunto
da classe trabalhadora para derrotar mulheres e os homens da burguesia.
Movimento
Mulheres Em Luta - MML: defesa do classismo e socialismo revolucionário.
É justamente por isso que as mulheres do PSTU
não constroem a Marcha Mundial das Mulheres, embora atuemos em unidade muitas
vezes. Nós, mulheres do PSTU construímos o Movimento
de Mulheres em Luta, o MML, que já nasce ligado a CSP-Conlutas, uma
organização sindical e popular da classe trabalhadora para a libertação total
tanto de homens e mulheres toda opressão seja ela de origem de gênero, raça,
identidade/orientação sexual e da exploração capitalista.
Neste sentido, chamamos as companheiras que se
organizam na base do MMM a refletirem sobre a política defendida pela direção
da Marcha Mundial (PT e PCdoB) base de apoio do Governo Federal, mas,
principalmente, sobre a base teórica que se fundamenta este movimento
feminista: policlassista ou de colaboração de classes. Precisamos fortalecer um
pólo classista, socialista e revolucionário. Infelizmente o MMM aponta na
direção contrária.
Próximo artigo:
è
Reforma Política
para quem? Uma polêmica com a Marcha Mundial das Mulheres.